Em novembro, a Secretaria de Política Econômica aumentou para 3,3% a estimativa do crescimento do PIB em 2024. Entre os fatores que motivaram esse aumento está a Pesquisa Mensal dos Serviços, do IBGE, que mostrou os serviços em alta de 1% em setembro com relação ao mês anterior; e 4% de crescimento na comparação com o mesmo mês do ano passado.
O desemprego já havia recuado para 6,4% no trimestre encerrado em setembro, a menor taxa de desocupação desde 2012 (IBGE). Segundo a Federação Brasileira dos Bancos, a oferta de crédito voltará a subir mais de dois dígitos esse ano. E finalmente, o uso da capacidade instalada da indústria subiu para 83% no ano, bem acima da média histórica de 79%, segundo os dados coletados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
É um fato, a economia vive o melhor momento em muito tempo. No entanto, cabe a pergunta: este padrão de crescimento é sustentável nos próximos anos? Há um superaquecimento da atividade? A resposta à primeira pergunta exige que se considere as causas desse crescimento. Em nossa opinião, o motivo principal foi o estímulo fiscal.
Só em 2023, as despesas totais do governo central cresceram 12% em termos reais, descontada a inflação. O déficit primário, sem contar o pagamento dos juros da dívida, foi de quase R$ 250 bilhões. Esse ano, as despesas cresceram em ritmo menor, e com o aumento da receita tributária, o déficit primário deverá atingir pouco mais de R$ 60 bilhões. Ainda assim, um estímulo à demanda e ao aumento do endividamento em relação ao PIB.
A segunda pergunta tem resposta empírica, nos dados. Os sinais de que o aquecimento requer atenção são: i) o aumento da inflação, tanto a inflação para esse ano quanto a expectativa de inflação para 2025 estão acima da meta perseguida pelo Banco Central; ii) o hiato do PIB positivo, isto é, o ritmo de crescimento observado é maior que taxa de crescimento que não pressiona a inflação, estimada pelo Banco Central e, iii) o aumento das importações, sinal de que a produção doméstica não é capaz de atender o crescimento da demanda, que vaza para o exterior.
Trocando em miúdos: o ritmo atual de crescimento da economia só será sustentável, sem causar inflação, se houver ganhos de produtividade. O mais provável, no entanto, é uma desaceleração suave da economia em 2025, para um crescimento de 2,5%. Isso porque, o Banco Central iniciou um novo ciclo de aumento dos juros, para combater a inflação, e porque o impulso fiscal do ano que vem será menor, com menor crescimento das despesas, para que seja cumprida a meta prevista pelo governo e contida a trajetória do endividamento público em relação ao PIB. É a hora certa, e decisiva, para a política anticíclica, leia-se, para o corte de gastos e controle das despesas.