Brasileiros começam o ano endividados, mas ainda podem sair do sufoco
"Acho que tem muita procura por crédito e que vai crescer ainda mais. As pessoas, as empresas, todos vão continuar precisando de crédito", diz o professor Vinícius Oliveira.
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"Acho que tem muita procura por crédito e que vai crescer ainda mais. As pessoas, as empresas, todos vão continuar precisando de crédito", diz o professor Vinícius Oliveira.
Em 2022 muitos brasileiros começam o ano endividados. Segundo dados do Banco Central, o grau de endividamento das famílias, como percentual da renda acumulada em 12 meses, alcançou 51%, no dado mais recente. A este respeito, o blog da Euro17 conversou com Vinícius Oliveira, professor de Economia da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, pesquisador do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura. Vinícius também apresentou algumas dicas para você sair do vermelho no ano que começa, além das perspectivas de curto-prazo para o mercado de crédito.
Professor, os dados da Banco Central indicam um endividamento recorde das famílias brasileiras. A que você atribui o aumento das dívidas?
À redução da atividade econômica em função da pandemia, mas também a políticas equivocadas. Desde o combate equivocado da pandemia, mas também à piora no mercado de trabalho.
Quem conseguiu se recolocar não alcançou o mesmo patamar de renda e consumo de antes. E a inflação, também reduziu o poder de compra e foi algo que prejudicou muito. E aí chegamos ao endividamento.
Diante dessas dificuldades, muitos irão recorrer ao crédito. Houve maior uso do cartão, do carnê, às vezes para continuar consumindo o básico, nada fora do normal, ou até conseguir um emprego.
E que dicas você pode dar para quem quer sair do sufoco em 2022?
O que destaco inicialmente, é que as pessoas precisam entender os limites de renda que elas possuem, saber o quanto têm e o quanto recebem e o quanto podem gastar. E aí, algo importante é que tragam todo mundo da família para entender a situação.
Sei que não é muito fácil, eu vejo muito consumidor que tenta resolver o problema sozinho e esconde isso da família. Então, se você tem um problema expõe isso pra todo mundo que compartilha esse orçamento, pra todo mundo que traz despesas e traz renda, para todos contribuírem na solução. Você vai se surpreender. Assim a família toma melhores decisões e sabe que um excesso hoje vai precisar ser compensado adiante.
Outra coisa, tem dívidas que você não pode abrir mão. As despesas básicas, aluguel, alimentação, água e luz e outras, você não tem como evitar. Do contrário a situação vai ficar muito pior, vai ficar mais difícil inclusive procurar melhores oportunidades de renda.
E a educação financeira, que papel pode desempenhar e como pode ser desenvolvida?
A educação financeira já foi implantada de certa forma. Há alguns conceitos na Base Nacional Curricular.
Você pai, você cidadão pode exigir que a escola onde seu filho está estudando leve o conhecimento de educação financeira. Justamente para as pessoas entenderem seus limites, o quanto podem gastar.
E não só isso, mas também para quem tem renda sobrando, para saber onde investir, aproveitar, por exemplo, o aumento dos juros agora.
Lembro ainda a lei 14.181 de 2021, que trata da prevenção ao superendividamento e aponta que se deve ter mais programas de educação financeira. Eu destaco o site do Banco Central que tem informações sobre educação financeira e o site do Procon de São Paulo.
Finalmente, que perspectivas você vê para o mercado de crédito no curto prazo?
Acho que tem muita procura por crédito e que vai crescer ainda mais. As pessoas, as empresas, todos vão continuar precisando de crédito.
O problema é essa elevação do custo. Estamos vendo o Banco Central aumentar os juros, e isso vai piorar as condições para quem precisar ir tomar crédito. Uma pena, porque ajudaria muito para a retomada do país, o que é necessário.
Para as empresas de crédito, sugeriria criar mecanismos para facilitar a captação de recursos, por exemplo de fundos ESG ou outros, mais baratos, e direcionar esses recursos aos consumidores endividados.
Vejo pessoas negativadas que aceitam condições ruins, porque têm medo de não conseguir emprego estando negativadas. As empresas de crédito poderiam olhar para esse segmento, até para que as pessoas possam se reequilibrar e voltar a tomar crédito de forma mais saudável.